Fissuras, Trincas ou Rachaduras? Saiba Como Classificar, Diagnosticar e Tratar (Guia Técnico Completo)

 

Imagem de paredes com manifestações patológicas, rachaduras , fissuras e trincas

As manifestações patológicas em edificações são um dos maiores indicadores de falhas construtivas e de degradação estrutural. Entre elas, as fissuras, trincas e rachaduras são as mais comuns — e, ao mesmo tempo, as mais negligenciadas.
Este guia técnico aprofunda conceitos, causas, métodos de diagnóstico, testes de atividade, tratamentos e normas relacionadas ao tema, para que você consiga avaliar corretamente cada situação em campo.


1. Entendendo a Diferença: Fissuras, Trincas e Rachaduras

Embora o termo “rachadura” seja muitas vezes utilizado genericamente, cada uma dessas manifestações possui características próprias:

✔Fissuras

Fissura horizontal ao lado da janela
Exemplo de fissura em paredes
  • Abertura até 0,5 mm

  • Geralmente superficiais

  • Não representam risco estrutural imediato

  • Normalmente ligadas a retração, movimentações higroscópicas ou variações térmicas

✔ Trincas

Imagem de uma parede trincada.
Exemplo de trinca em parede

  • Abertura entre 0,5 mm e 3,0 mm

  • Já indicam algum nível de movimentação significativa

  • Podem afetar desempenho do sistema, permitir infiltrações e comprometer durabilidade

  • Exigem investigação e monitoramento

✔ Rachaduras / Fendas

Parede rachada, sendo possível ver o outro lado através da fenda.
Rachadura verticalizada em parede


  • Abertura acima de 3,0 mm podendo ser visível o outro lado através da abertura
  • Podem indicar falhas estruturais
  • Demandam intervenção urgente e avaliação de engenheiro estrutural

  • Podem representar risco à segurança

Classificar corretamente é o primeiro passo para entender a gravidade do problema.


2. Principais Causas das Fissuras, Trincas e Rachaduras

As causas podem estar relacionadas ao projeto, materiais, execução, uso e manutenção. Abaixo, as mais comuns:

2.1 Causas Estruturais

  • Sobrecargas não previstas

  • Recalques diferenciais

  • Falhas no dimensionamento estrutural

  • Movimentações térmicas de grandes proporções

  • Armaduras insuficientes

2.2 Causas Construtivas (Execução)

  • Mistura inadequada de argamassas

  • Cura insuficiente do concreto

  • Falhas na amarração de alvenarias

  • Ausência de juntas de dilatação

  • Uso de materiais de baixa qualidade

  • Erros de prumo e alinhamento

2.3 Causas Relacionadas ao Projeto

  • Detalhamento insuficiente

  • Ausência de juntas construtivas

  • Materiais incompatíveis

  • Falta de previsão de movimentações higroscópicas e térmicas

2.4 Causas Ambientais / Naturais

  • Variação térmica intensa

  • Umidade

  • Ação de ventos

  • Vibrações contínuas (máquinas, tráfego, ferrovia)

2.5 Causas Relacionadas ao Uso e Manutenção

  • Adaptações feitas sem critério técnico

  • Sobrecarga em lajes

  • Ausência de manutenção preventiva

  • Infiltrações prolongadas


3. Como Diagnosticar: Identificação, Classificação e Enquadramento

Antes de qualquer intervenção é essencial realizar um diagnóstico completo. Os passos principais são:

3.1 Leitura da Manifestação

  • Localização

  • Orientação (vertical, horizontal, diagonal)

  • Profundidade

  • Extensão

  • Material atingido (reboco, alvenaria, concreto estrutural)

3.2 Relação da Fissura com o Sistema Construtivo

  • Fissura vertical em parede → pode indicar recalque

  • Fissura horizontal → sobrecarga ou falha na amarração

  • Fissura inclinada → esforços de cisalhamento

  • Fissura em forma de “mapa” → retração da argamassa

3.3 Leitura do Padrão

Fissuras podem indicar patologias específicas:

PadrãoIndica
Fissuras em maparetração de argamassa ou cura deficiente
Trinca inclinada em vergasausência de vergas/contravergas
Fissura vertical próxima a pilaresrecalque diferencial
Trincas horizontais no meio da paredefalta de amarração / deformação

4. Como Saber se Está Ativa: Métodos e Testes de Monitoramento

Determinar se a fissura está ativa é essencial para evitar retrabalho e falhas no reparo.

4.1 Teste com Régua de Fissura

  • Mede abertura

  • Repetido ao longo de semanas ou meses

  • Registra evolução da abertura

4.2 Testemunho de Gesso

  • Pequena "placa" de gesso sobre a trinca

  • Se romper, indica atividade

  • Simples, barato e eficaz

4.3 Fissurometros Digitais

  • Monitoramento de maior precisão

  • Usado em obras e investigações aprofundadas

4.4 Ensaios não destrutivos (END)

Em casos mais complexos:

  • Ultrassom

  • Esclerometria

  • Termografia

  • Radar de penetração (GPR)

Esses ensaios auxiliam na identificação da profundidade e da origem do problema.


5. Como Tratar: Soluções Por Tipo e Gravidade

O tratamento depende do tipo e severidade da manifestação.

5.1 Fissuras Superficiais (até 0,5 mm)

  • Reparo do revestimento

  • Aplicação de selantes flexíveis

  • Nivelamento com massa acrílica ou similar

  • Repintura com produtos elásticos

5.2 Trincas Moderadas (0,5 a 3 mm)

  • Abertura e limpeza da trinca

  • Preenchimento com argamassa polimérica

  • Selantes flexíveis de maior desempenho

  • Reforço pontual da região se necessário

5.3 Rachaduras / Fendas (> 3 mm)

  • Investigação estrutural obrigatória

  • Injeção de resina epóxi (se de natureza estrutural e estável)

  • Reforço estrutural (chapas metálicas, fibras de carbono, grapas estruturais, etc.)

  • Recuperação com argamassas de alta performance

  • Acompanhamento técnico


6. Normas Técnicas Relacionadas

As principais normas que abordam fissuras, trincas e desempenho das edificações são:

 NBR 15575 — Desempenho de Edificações Habitacionais

  • Define requisitos de desempenho estrutural, térmico, acústico e de durabilidade

  • Traz orientações sobre limites de fissuração e durabilidade

NBR 13749 — Revestimento de Paredes e Tetos

  • Especifica causas e critérios de aceitação de fissuras em revestimentos

NBR 16868 — Inspeção Predial

  • Padroniza métodos de inspeção e classificação de anomalias

 NBR 6118 — Projeto de Estruturas de Concreto

  • Define limites e causas estruturais de fissuras

 NBR 9575 e 9574 — Impermeabilização

  • Relacionadas a fissuras causadas por infiltrações


7. Prevenção: Como Evitar Que Fissuras Apareçam

  • Projeto detalhado e compatibilizado

  • Execução com controle tecnológico

  • Uso de juntas de dilatação

  • Cura adequada do concreto

  • Escolha correta de argamassas

  • Fiscalização de obra por profissional habilitado

  • Manutenção preventiva periódica

  • Evitar sobrecargas e alterações não projetadas


Perguntas Frequentes

1. Toda fissura indica problema estrutural?

Não. A grande maioria é superficial, porém somente a classificação correta  e uma avaliação estrutural permite saber se há risco.

2. Trincas podem voltar depois do reparo?

Sim, se a causa não for eliminada. Por isso o diagnóstico é fundamental.

3. O que fazer ao identificar uma rachadura grande?

Interromper o uso do ambiente, isolar a área e chamar um engenheiro civil para avaliação estruturada.

4. Como saber se a fissura é antiga ou recente?

Com monitoramento utilizando régua de fissura ou testemunhos de gesso.

5. A pintura pode esconder fissuras?

Sim, mas não resolve o problema. O revestimento precisa ser tratado antes da pintura.

6. Conclusão

Fissuras, trincas e rachaduras não devem ser ignoradas. Uma avaliação técnica aprofundada, associada ao monitoramento adequado, garante segurança, durabilidade e desempenho conforme as normas vigentes — especialmente a NBR 15575, fundamental quando falamos sobre manifestações patológicas.


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